sábado, 9 de abril de 2016

Culpa nº I

Já não odeio despedidas. 
A passagem de um relacionamento a outro - e esse estado atual - permite ver o quanto se cresce ao caminhar com e através de pessoas. O quanto se muda ao segurar e soltar vidas.

A primeira culpa, a culpa originária, não sei de onde veio. Diz-se que nascemos quebrados. 
Não tenho mais fé no livro que conta dessa história. Mas, ainda assim, sou levada a acreditar que o coração reflete bem um esfacelamento que vêm desde sempre. Talvez dos filmes e livros que a gente escolhe gostar, das pessoas que resolvemos admirar e dessas tantas que se canta por ai.

Caso é que o meu era só mais um desses já-quebrados-corações. Algumas experimentações pra se provar vivo, quando mal começara a viver.
Não há culpa em amar. E coração é bicho com fibra suficiente pra bater forte mesmo quando se é deixado. Mesmo quando se deixa.


Cultivei um peito selvagem e colhi cores que não conhecia. Sabores tantos, irrefletidos. Por não querer pensar, não querer comedir.
Entrei numa valsa frenética, me forcei saber dançar diferentes desejos e pus a tapa uma cara que não calculei ter: cheguei a ser. Cara que fui familiarizando a mim mesma, me afeiçoando a seus detalhes e defendendo de moralismos nefastos. 

Segui. Dentre as coisas que às vezes repito pra mim, tal qual Alice, esta.
Mas seguir tem seu lado não saudável: abocanho agora. Agora, que tantas culpas têm vindo a tona. Agora, que enxergo nas minhas raízes e nos meus traços pedaços pútridos das escolhas feitas. Da responsabilidade mínima não assumida com outra vida.


Há, sim, um sorriso pelo que há de novidade por ai. Novos ares pra tua casa, novo cheiro pra tua memória. Novo pulso pro peito. Mas num canto de mim sinto o amargo do rastro que deixei. Marcas escondidas nas brechas. Coisas demais.

sexta-feira, 17 de julho de 2015

engraçado como memórias físicas das pessoas parecem guardá-las numa bolha mais sólida.
como se aquele presente que você me deu atestasse que
sim!
você esteve aqui.

terça-feira, 2 de junho de 2015

[notas do celular, 25.01.2015]

Há uma cumplicidade estranha e gostosa em se compartilhar momentos profundamente seus com estranhos.

Do ônibus que demora a chegar e se percebe que vocês, plenamente desconhecidos, se impacientam esperando o mesmo destino.
Do filme que se vê até os final dos créditos com um ou outro que seguem religiosamente essa tradição.
Do cigarro que mal se podia esperar para aliviar a ansiedade mutuamente vivida, mesmo que alheia às razões do outro.
Dos livros que se lêem e  em tudo isso aquela troca de olhares desconsertada de quem se surpreende com a semelhança.

Acidentalmente há uma graça muito bem montada nessa coisa toda de se encontrar no outro.

segunda-feira, 18 de maio de 2015

"E sem destino eu vou tentando te encontrar
Pra te dizer que eu preciso me achar
Pra viver sem me perder 

O mundo não é mais o meu"


MUDA

sexta-feira, 15 de maio de 2015

expediente.

[de 04.01.15]

E ter que ser uma pessoa forte. Mulher que pode ser posta a prova e não comete deslizes. Adotar a personalidade das heroínas - e anti-heroínas - que admira.

Isso tudo só pra viver o dia-a-dia. Recriar a rotina e salvar a própria alma da mediocridade. Salvar-se da pena de não ter conseguido ser. Do risco tão facilmente corrido de desrespeitar a si.
Novos rumos, terras novas à vista. E o medo da areia movediça ou sabe-se lá o que mais inventam para que você mantenha a  planta dos pés no lugar que te fincaram desde o nascimento.

Mas nasceu pra voar. Se tem casa, ainda não sabe bem onde fica. Uma em cada cinco almas deve sofrer desse mal de querer ir. De se encontrar só quando parte, se reconhecer explorando novas terras.

Os passos ainda são pequenos.
Mundo pouquíssimo descoberto. Mas começa-se de alguma forma, não é mesmo?
Ocupar novos espaços, deixar escancarar problemas que não são tão novos assim. Admitir e segurar as pontas: o peso de ser verdadeira já se revelou grandioso noutras histórias. Mas também é incrível e paradoxal a leveza que a sinceridade nos garante. Sinceridade com todos e principalmente consigo.

quarta-feira, 22 de abril de 2015

Preto. Forte.
O atraso é grande, mas esses minutos tomados para o café não atrapalham nada.

É sagrada, quase que reverencial, esta pausa. Engraçado: hoje me acalmou o coração!

domingo, 22 de março de 2015